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Pesquisando a relação entre os lugares literários e a visualidade durante o doutorado, me dispus a habitar algumas cidades na França para aprofundar meu entendimento dos lugares escritos por Marguerite Duras.
Me debrucei sobre o livro que serviu de roteiro ao filme "Hiroshima meu amor", uma de suas obras mais célebres. Nela contava a história de um homem e uma mulher que se conhecem e se envolvem durante a rodagem de um filme sobre a guerra em Hiroshima: ela francesa, ele japonês. Na história, a cidade de Nevers, que a personagem feminina rememora durante o filme todo e permeia a relação entre os dois, surge como mais do que como mero pano de fundo para o enredo.
Sempre me senti muito confortável pelo fato da literatura de Duras não pré-definir um lugar do feminino, sem se preocupar em nomeá-lo. Ao mesmo tempo, intuía e me identificava fortemente com esse lugar desde onde ela escreve, pungente como um soco bem dado. Não por acaso ela também não nomeia as personagens de Hiroshima, simplesmente as identifica pelo gênero, até o momento final, quando elas mesmas decidem se rebatizar.
Nevers, Trouville, Neuf-le-Chateau, Paris. Essa definição de um espaço, de seu espaço, me era cara por si só na procura pela imagem dos lugares de Duras, afinal eu circulava por eles carregando uma memória emprestada e alheia, de forma a fazê-los colidir com os espaços reais que encontrava a partir da minha experiência. Essa sobreposição (ou permeabilidade, talvez) produziria sensações, imagens, fotografias, vídeos, movimentos e ações como formas visíveis e palpáveis dessa experiência.
O conjunto deste trabalho é parte do Doutorado em Poéticas Visuais "Entre o livro e o lugar", 2015, orientado por Carlos Fajardo na Escola de Comunicações e Artes, USP. Disponível em TEXTOS.
Eu não acreditava que um lugar pudesse ter essa potência, essa força. Todas as mulheres de meus livros habitaram esta casa, todas. São as mulheres que habitam os lugares, não os homens.
Toutes les femmes de mes livres ont habité cette maison, toutes. Il n’y a que les femmes qui habitent les lieux, pas les hommes.
vídeo, 7'02", 2015.
vídeo (díptico), 09:02, 2015
vídeo (díptico), 09:02, 2015
Concerto para voz e muro, 3'48", 2015.
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